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Covid: vendas de máscaras e álcool em gel despencam pela metade

Aposta de fabricantes de equipamentos de proteção individual (EPIs) é que retomada da exportação e conscientização vão diminuir perda de faturamento

Por Gabriel Ronan

 

Após passar pela onda da variante ômicron do novo coronavírus no início do ano e com o avanço da campanha de vacinação, o brasileiro vai, aos poucos, retomando à vida normal. Neste cenário, dois itens que se tornaram praticamente membros do corpo do ser humano durante a pandemia começam a ser deixados de lado: a máscara e o álcool em gel.

Desde o fabricante até o revendedor, toda a cadeia que comercializa esses produtos já sente o impacto do arrefecimento da crise sanitária.

No varejo, por exemplo, o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais (Sincofarma-MG) assegura que as vendas atualmente representam menos da metade do saldo durante o pico da pandemia.

“Caiu demais, sem dúvidas. Tanto a procura quanto o produto em estoque. Era um faturamento importante, mas o impacto para o setor não é tão grande, porque o valor agregado do álcool e da máscara não é alto. São produtos baratos”, afirma Rony Anderson, vice-presidente do Sincofarma-MG.

A realidade trazida pelo sindicato é a mais pura tradução do expediente da Drogaria Planalto, no bairro de mesmo nome, Região Norte de Belo Horizonte.

“Álcool em gel praticamente nem vendemos mais. Demanda zero quase. No caso das máscaras, ainda vendemos de maneira avulsa. A pessoa sai e acaba esquecendo em casa. Aqui ao lado tem uma padaria, então acontece de vez em quando. Os pedidos com os fornecedores despencaram também”, diz Matheus Silva, farmacêutico do estabelecimento.

Na mesma toada, dados da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) mostram o impacto da pandemia no mercado de equipamentos de proteção individual (EPIs).

Em 2019, antes do impacto do coronavírus no mundo, os protetores respiratórios (as máscaras PFF2 e N95) representavam 5,5% do faturamento desse mercado, com R$ 570,3 milhões. No ano seguinte, houve um salto de 13% de participação com arrecadação de R$ 2,1 bilhões.

Na mesma toada, as luvas hospitalares saltaram de 19,6% (R$ 2 bilhões) antes da pandemia para 27,8% (R$ 4,6 bilhões) após o surgimento do vírus.

“Aumentou o número de empresas e também os preços. No final do ano passado, esses números já começaram a voltar ao normal. Houve uma retomada pequena com a ômicron, mas agora está voltando ao normal de novo. Essas máscaras tinham um consumo na área médica, mas o principal era da área industrial. Menos de 10% era para a área hospitalar antes da pandemia”, explica Raul Casanova, diretor-executivo da Animaseg.

Máscaras continuarão em alta?

De acordo com Casanova, o setor espera uma manutenção de parte da demanda da pandemia por uma mudança de comportamento de parcela da população, que agora está mais consciente sobre as necessidades de proteção contra outros vírus, e também do causador da Covid. Mas, é inegável que haverá uma queda na arrecadação.

No caso das máscaras, a venda caiu ainda mais após várias cidades desobrigarem o uso do item. Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde autoriza andar “de cara nua” em ambientes abertos e fechados.

Nesse último caso, a permissão só vale para as prefeituras com 80% de vacinados com a segunda dose e 70% com a vacina de reforço, a terceira. Em BH, o aval é dado apenas para os locais com ampla circulação de ar.

Essas liberações estão ligadas a uma queda dos indicadores fundamentais da pandemia. Em novo balanço divulgado nesta sexta (25), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que todos os estados brasileiros estão com seus leitos de UTI com ocupações em controle.

É a primeira vez que isso acontece desde julho de 2020, quando o indicador passou a ser acompanhado pela Fiocruz.

Diante de tal cenário, o diretor-executivo da Animaseg aposta nas exportações para repor a diminuição das vendas de máscaras.

“Estamos esperando o Ministério da Saúde derrubar a proibição de exportação. Quando ele (o governo federal) falar que terminou, nós temos uma chance muito maior de buscar esses mercados externos. Não acho que vai compensar a não obrigatoriedade de uso, mas vai diminuir (o desfalque na arrecadação)”, diz Raul Casanova.

Fabricante de álcool em gel impactado

Há quase 20 anos no mercado como fabricante de álcool em gel e outros produtos de limpeza, a Chemicall Max, sediada em Contagem, na Grande BH, viu a venda do produto de combate ao coronavírus cair cerca de 60% nas últimas semanas, em relação ao ápice da pandemia.

“Vendemos o produto em embalagens de 500 ml e também o galão de cinco litros. Caiu bastante, mas o preço subiu um pouco por conta da matéria-prima, que encareceu. A maior demanda é das empresas mesmo”, diz Mara Dinamara, consultora de vendas da companhia.

A situação é a inversa do que se viu em diferentes momentos de 2020 e do ano passado, quando o consumidor enfrentou filas e precisou pesquisar para poder comprar álcool em gel.

Com demanda em alta e oferta escassa, o preço do produto foi lá pra cima, o que não impediu o esvaziamento das prateleiras.

Mais máscaras, menos álcool

A designer Bianca Barros, de 25 anos, é uma das pessoas que diminuiu o uso do álcool em gel. Na contramão, ela afirma que hoje usa mais máscara do que antes.

“Acredito que eu esteja comprando mais máscaras do que antes. A gente está saindo mais. Eu pude trabalhar de home office o tempo todo, então a necessidade antes era para coisas mais essenciais. Hoje, eu saio para outras coisas, então compro estoques de PFF2”, explica.

“Quanto ao álcool em gel, foi o inverso. Vejo menos necessidade hoje, porque há menos riscos de se contaminar pelo toque em superfícies. Mas, não tirei da bolsa”, completa a jovem.

Fonte: Jornal O Tempo (MG), 25 de março de 2022
Foto: Depositphotos

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